Wednesday, August 4, 2010






Chemnitz III - Uma floresta petrificada sob a cidade





Uma cidade esconde sempre alguma coisa, ou porque não tivemos tempo suficiente para ver tudo, ou porque a habitámos demasiado tempo e tudo se tornou hábito. No caso da cidade saxónia de Chemnitz, sobre a qual tenho vindo a escrever, há todo um tesoiro escondido e por explorar, com 290 milhões de anos, literalmente soterrado sob a cidade. Trata-se de uma floresta petrificada, que deve a sua formação a uma erupção vulcânica de grandes dimensões. A lava e cinza espalhou-se por uma área de dez quilómetros e, tendo absorvido muita da humidade da atmosfera, caiu sobre uma floresta virgem tropical que está agora, conservada pela petrificação, sob a cidade de Chemnitz. Tal como explica o especialista em fósseis Jörg Schneider, toda essa área da floresta ficou transformada em pedra no intervalo de poucas horas.

O jornal da região Sächsische Zeitung noticia, a 30 de Setembro de 2009, a descoberta de um animal dessa época durante as escavações, anterior mesmo aos dinossauros, com o aspecto de uma serpente com pernas. Na opinião dos especialistas, muitos outros animais poderão ser trazidos à luz pelo trabalho de escavação: répteis, insectos, aranhas, escorpiões, e até libelinhas com asas de vinte centímetros, entre outros. Nesta época longínqua, a Europa estava ainda ligada à América do Norte - juntas formavam uma placa de pedra que se localizava perto do Equador, com temperaturas de trinta graus centígrados na época das chuvas e de quarenta na época seca. No lugar onde hoje se encontra Chemnitz crescia então uma luxuriante floresta tropical de árvores coníferas, fetos e cipós.

Uma pequena parte desta a que alguns chamam já a oitava maravilha do mundo pode ver-se no Museu de História Natural de Chemnitz. O conjunto que constitui a floresta petrificada de Chemnitz poderia muito bem vir a ser considerado o maior e mais importante fóssil da Europa e ser classificado pela UNESCO como património mundial. Chemnitz ganharia assim uma nova e bem diferente imagem de marca no séc. XXI, e poderia vir a transformar-se num dos locais mais visitados da Europa.

A floresta petrificada mais conhecida do mundo fica no Arizona, nos Estados Unidos da América, e faz parte do planalto do Colorado e do deserto conhecido como "Painted Desert". O filme The Petrified Forest, de 1936, com argumento de Delmer Daves, tem este cenário como pano de fundo, e era (provavelmente pelo belo diálogo das personagens principais sobre livros) um dos filmes preferidos de Jorge Luis Borges.

Vd. Stephan Schön, "Eine Vulkanexplosion verschüttete den Chemnitzer Ursaurier und rettete ihn so bis heute", in: Sächsische Zeitung, 30 de Setembro de 2009