A Voz das Máquinas no Museu da Música Portuguesa - uma exposição para ver, ouvir e... aprender muito
II - A exposição
They all laughed at Christopher Columbus
When he said the world was round
They all laughed when Edison recorded sound
George e Ira Gershwin, They All Laughed
Até 30 de Outubro de 2011 pode ainda visitar a exposição A Voz das Máquinas no Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria, no Estoril, e deliciar-se com um conjunto significativo da colecção particular de Luís Cangueiro, desta vez mostrando fonógrafos e gramofones, evocando a era dos primeiros inventores dos instrumentos de gravação de voz e som, Thomas Edison (1847-1931) e Émile Berliner (1851-1929).
A peça que podemos ver no cartaz da exposição, Idéal Mixte, França, 1904, é uma peça que faz a transição entre o fonógrafo e o gramofone, equipada com ambos os processos de leitura e com duas campânulas individualizadas, que permitem a audição do disco ou do cilindro. A Idéal Mixte está em destaque na Exposição e marca a passagem para a segunda sala, e a transição do fonógrafo para o gramofone. Trata-se de uma peça que se destaca não só pela originalidade, mas sobretudo pela sua raridade.
Ainda na primeira sala, a gravura que podemos ver em cima à direita data da Exposição Universal de Paris de 1889 e mostra, através da expressão dos rostos dos visitantes, a grande curiosidade e interesse despertado pela audição em simultâneo de um registo de fonógrafo de Edison.
Já na segunda sala, podemos ver o gramofone Berliner, EUA, 1900, associado à imagem do cão mais famoso da história do som, que conhecemos como "His Master's Voice", ou "A Voz do Dono", em Portugal. Na verdade, este cão tem não só nome, como também uma história comovente. Chamava-se Nipper e o dono, um inglês de ascendência francesa, costumava gravar a própria voz em discos de fonógrafo. Quando o dono de Nipper morreu, o irmão, o pintor Francis Barraud, herdou estes registos de voz e ficou encarregado de cuidar de Nipper. Sempre que Barraud tocava um cilindro com a voz do irmão, Nipper reconhecia a voz do dono e ficava na atitude atenta que conhecemos da imagem de marca. Barraud inspirou-se nessa atitude de Nipper e pintou um quadro a que deu o título His Master's Voice. Concluído o quadro, Barraud lembrou-se de procurar Edison para lho vender como símbolo da fidelidade dos seus fonógrafos, que permitiam ao cão reconhecer a voz do dono. Como Edison tivesse recusado, Barraud repetiu a proposta ao representante na Inglaterra desde 1899 de Émile Berliner, William Owen. Tendo a proposta sido aceite, Barraud modificou o quadro, pintando sobre o fonógrafo de Edison o gramofone de Berliner. Esta peça faz assim, de igual modo, a transição entre o fonógrafo e o gramofone, além de eternizar Nipper, um cão que, para além da celebrada virtude da fidelidade, tinha também muito bom ouvido.
Panorâmica da segunda sala
Pathé Concert Nº 3, França, 1913 (pormenor), peça de grande riqueza decorativa em zinco, de Legrand. Com som muito forte, destinava-se a salas de espectáculos e de baile.
Multiphone, França, 1914 (pormenor), exemplar muito raro de juke-box com moedeiro, um dos primeiros aparelhos a oferecer a escolha do disco.
Bell Horn Phonograph, EUA, 1920, máquina invulgar equipada com uma campânula acústica de metal em forma de sino, com motor, prato e respectivo braço. A peça adicional de bailarinos podia acompanhar vários ritmos musicais, executando passos de dança diferentes.
Secção de gramofones para crianças. A peça à direita chama-se Eureka, da Alemanha, 1903, e foi adoptada por uma marca belga para fazer publicidade aos chocolates Stollwerk, fabricando discos que podiam ser comidos após a audição.
a
World War II, Alemanha, 1939, esta grafonola de guerra destinava-se aos soldados da II Guerra Mundial. Aqui, o dispositivo adicional liga o som à imagem, produzindo uma imagem cinemática (neste caso um comboio), que podemos contemplar enquanto ouvimos o som (Bon voyage!).
Resta-me sublinhar que todas as peças da exposição estão magnificamente conservadas, podendo ser não só vistas, mas também ouvidas no recinto da exposição.
Com isto não quero de modo nenhum despedir-me dos leitores deste blogue, voltem sempre, apenas desejar-lhes boa viagem até ao Museu da Música Portuguesa, para ver ainda até 30 de Outubro de 2011 a exposição A Voz das Máquinas!
Fontes:
Catálogo da Exposição Voz das Máquinas - Museu da Música Portuguesa, Cascais, 2011
Fonógrafos e Gramofones, Colecção Particular de Luís Cangueiro. Edição Quinta Do Rei - Lazer e Cultura. Lda, 2008
Site do futuro Museu da Música Mecânica em Palmela:
Os meus agradecimentos muito especiais ao Dr. Luís Cangueiro pela autorização para fotografar o recinto da exposição, e à Drª Andreia Martins pela instrutiva visita guiada