É já nesta quinta-feira que teremos a poeta, ensaísta e professora Maria João Cantinho no Centro de Língua Portuguesa - Instituto Camões de Hamburgo. Vai falar sobre "Cosmopolitismo em Walter Benjamin: entre o apelo da rêverie e a experiência de choque".
Eis o resumo da conferência pela autora:
"Paris constitui-se como objecto arquitectónico privilegiado por Benjamin e a que o autor recorre constantemente, quer para situar Baudelaire, quer para a caracterizar e compreender na sua obra, do ponto de vista da sua modernidade. É a nova cidade, após a sua reconstrução, tal como ela foi levada a cabo por Haussmann, no século XIX. Paris era constituída por largas avenidas e passeios amplos, que permitiam ao parisiense uma nova relação com a cidade e com a arquitectura, tendo sido reconstruída mediante novos traçados, através de uma reestruturação fundiária, de construção de infra-estruturas, assim como a construção de equipamentos e de espaços livres. A esquematização cria uma cidade com luz, espaço e revaloriza, enquadrando, os monumentos. A maior parte do que será o alvo essencial da obra de Walter Benjamin, as galerias, construíram-se nos quinze anos a seguir a 1822. Associadas ao aparecimento da nova arquitectura e dos novos elementos construtivos, o ferro e o vidro, surgem os precursores dos grandes armazéns, a que se chamam os armazéns de novidades. Estes armazéns e, por conseguinte, as galerias parisienses, converteram-se num pólo de atracção turística, como o afirma Benjamin, com base na leitura de um guia ilustrado de Paris nessa época.” O aparecimento das galerias coincide igualmente com o dos panoramas, os quais se constituem, como “a expressão de um sentimento novo da vida.”2 O citadino, através dos panoramas, tenta introduzir o campo na cidade e nos panoramas (aspecto que será importante na análise do tema do flâneur e da flânerie) a vida alarga-se às dimensões de uma paisagem, desdobrando-se como tal, ante o olhar do transeunte. Ressalte-se, ainda, como acontecimento significativo e decisivo, mesmo, o aparecimento da fotografia. Quando lemos Baudelaire, nomeadamente a sua obra "Les Fleurs du Mal, é uma Paris dos excluídos que ali aparece, da prostituição, do trapeiro, das figuras decadentes e simbolicamente representantes das desigualdades sociais d Paris do Segundo Império. Quando lemos Marcel Proust, mais próximo de nós no tempo, com a sua ampla galeria de personagens, o salão literário de Madame Verdurin, o ambiente que se vive na sua obra e que Proust retrata com fidelidade, compreendemos a vida íntima da cidade e do modus vivendi da cidade, mas a de uma Paris burguesa, onde Swan e Odette de Crécy faziam as delícias das alcoviteiras e sobressaltavam os costumes. É desta experiência e do modo como Walter Benjamin a compreendeu intimamente, como sonho e, simultaneamente, como experiência de choque, que vou falar na quinta-feira na Universidade de Hamburgo, a convite do Instituto Camões, na pessoa de Ana Constança Messeder."
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