Isabel Florêncio Pape
Realizou-se na passada quinta-feira dia 19 de junho de 2014 no Centro de Língua Portuguesa - Camões da Universidade de Hamburgo uma sessão de apresentação da exposição Cenas do Cacau - Figuras de Amado, de Isabel Florêncio Pape. Isabel é licenciada em Artes Plásticas, mestre em Comunicação Social e Doutora em Literatura Comparada e Estudos Semióticos pela Universidade Federal de Minas Gerais; desde 2010 vive e trabalha em Hamburgo.
A fotógrafa percorreu em 2010 a rota da "Costa do Cacau" na Baía à procura de um equivalente em imagens fotográficas ao ciclo de quatro romances de Jorge Amado relativos ao tema: Cacau (1933), Terras do sem Fim (1943), S. Jorge dos Ilhéus (1944) e Tocaia Grande (1984). Estes romances retratam a história das plantações de cacau na região natal do autor e exprimem a sua visão crítica da sociedade brasileira de então, com as suas contradições e desigualdades, mas também a sua fidelidade aos temas nacionais, crenças e tradições do povo brasileiro.
A artista toma como cenário da sua encenação fotográfica da obra de Jorge Amado uma plantação de cacau em ruínas, que tinha sido abandonada em 1989 devido a uma praga das árvores de cacau ("vassoura de bruxa"). As imagens de Isabel Florêncio recriam quer o texto do romancista quer a época retratada, levando o espectador a refletir sobre a perenidade da recriação da realidade histórica e social pela arte (da escrita e da imagem, um exemplo claro de diálogo intertextual e de intermedialidade, mais precisamente entre fotografia e literatura neste caso).
Festejou-se em 2012 o centenário de Jorge Amado, que em 1994 recebeu o Prémio Camões pela sua obra. Nessa ocasião esteve patente em Lisboa na Biblioteca Nacional a exposição Jorge Amado em Portugal. O material apresentado incluía - a título de curiosidade - o processo que a polícia política do regime de Oliveira Salazar fez sobre Jorge Amado, e um texto do escritor em defesa de Álvaro Cunhal, líder do PCP, publicado na clandestinidade pelo jornal Avante. Quando em 1931 foi editado País do Carnaval, Jorge Amado foi recebido como o "escritor do romance social", comparável ao pintor Cândido Portinari. A edição de Gabriela Cravo e Canela em 1958 e a sua enorme projeção em todo o mundo permite a edição em Portugal em 1960, e o escritor vem a Portugal em 1966. Desde então multiplicam-se as edições e tiragens, e a partir da Revolução de 25 de Abril de 1974 toda a obra de Jorge Amado tem edição integral e é reforçada pela adaptação de alguns dos seus romances a séries de televisão e ao cinema, destacando-se Gabriela Cravo e Canela à televisão em 1977 e D. Flor e seus dois Maridos ao cinema.
O evento foi uma iniciativa de Ana Quintão, dinamizadora do GDTB (Grupo de Discussão sobre Temas Brasileiros), em colaboração com o CLPC (Centro de Língua Portuguesa - Camões na Universidade de Hamburgo).
A sala do CLPC estava transfigurada pela montagem da exposição, também ela imaginada pela artista, e o público discutiu longa e entusiasmadamente a temática da exposição com a fotógrafa.
Ana Quintão, Isabel Florêncio, Ana Delgado
Fotos do evento da autoria de Cristina Francisco
Página do GDTB