Nem todos os filhos de Deus têm sapatos, Senhor...
O programa Mang'oto, no qual Edgar Lange e a família (Antje, a companheira, e os dois filhos do casal, Max e Eric), tão generosa e entusiasticamente participam, une esta aldeia, situada nas Montanhas Livingstone, no sudoeste da Tanzânia, com uma paróquia evangélica na Alemanha, em Ströbeck. O pastor desta comunidade está reformado, mas continua a ser o coração da organização, juntamente com a sua sucessora, que também já visitou a Tanzânia, e continua responsável pelo trabalho ecuménico.
Edgar Lange salienta a importância de um programa como este na Alemanha, justamente em zonas onde há um forte elemento neo-nazi. Os programas de ajuda directa ajudam a abrir os olhos dos cidadãos para a realidade num continente muito diferente, já que a maior parte da população alemã não faz a menor ideia da cultura e das condições de vida na Tanzânia ou mesmo na África em geral. Edgar é de opinião que todos devíamos viver no nosso planeta de forma justa e equilibrada, mas até hoje ainda não encontrámos uma maneira de o fazer, ou simplesmente ainda não fomos capazes de a pôr em prática.
Mas a maneira de viver africana, sublinha Edgar com entusiasmo, também tem as suas vantagens e nós, europeus, poderíamos aprender muito com eles. Os africanos vivem com as coisas que são realmente essenciais - nós vivemos rodeados de coisas inúteis. A nossa vida é marcada pelos mercados e pelo consumo, e todos os valores estão ligados à sociedade de consumo, "ter" em vez de "ser". Em África, até um simples copo de água potável, que erradamente nos habituámos a ter como uma coisa certa e óbvia, é algo de muito importante. Nós temos vindo a destruir a Terra, o nosso belo planeta azul. Eles vivem com a Terra e há tribos que veneram a Terra como se fosse uma divindade, porque ela também dá alimento. Tudo isto, no entanto, continua Edgar, é filosofia - a realidade é bem mais dura e difícil, os factos bem mais sérios. Eles sabem que não vivem muito tempo, e há muito que aprenderam a viver com a presença da morte como uma coisa natural, que faz parte do ciclo da Natureza. Assim, são jovens e alegres e vivem no presente, porque sabem que não têm vidas longas.
A prioridade desta parceria de ajuda directa - o que quer dizer que o dinheiro doado vai directamente para as populações, Edgar e a família, por exemplo, pagaram a viagem do próprio bolso - é ajudar as crianças órfãs da sida. São em Mang'oto cerca de 400 órfãos, muito pobres e muito inteligentes, salienta Edgar, pois inteligência e educação são coisas diferentes. Estas crianças estão subalimentadas e sozinhas, pois grande parte delas perdeu um ou os dois progenitores, pai e mãe. Vivem entregues a si próprias, sem ninguém que as ajude ou cuide delas, e em difícil situação psicológica. Assim, o programa Mang'oto - Ströbeck ajuda as crianças de várias maneiras: apoia os que nada têm com um programa de bolsas de estudo, compram cadernos, livros e sapatos para os órfãos - sim, ter sapatos é um luxo em Mang'oto... e por isso, quem os tem já é, só por isso, muito feliz! A parceria criou uma rede de padrinhos e madrinhas, pessoas ou empresas, que pagam 10 Euros por ano para apoiar um aluno que perdeu o pai ou a mãe, ou ambos. Com estes 10 Euros, os órfãos podem frequentar a Escola Primária e comprar roupa, livros, cadernos, sapatos. As roupas das crianças são confeccionadas por um grupo de mulheres, viúvas da sida, a quem o programa de ajuda directa comprou treze máquinas de costura e ofereceu um curso de corte.
O programa também luta directamente contra a sida, cuja percentagem é, nesta região, de 40%, por causa das tradições de poligamia e das migrações laborais, criando grupos de auto-ajuda e distribuindo preservativos pela população - Edgar já viajou várias vezes com a mochila cheia de preservativos para Mang'oto...
Outras prioridades são juntar dinheiro para comprar canos que vão trazer água da nascente da montanha até à aldeia. Agora, são ainda as crianças quem transporta a água à cabeça todas as manhãs. Edgar salienta, vivamente impressionado, ter muitas vezes entrevistado crianças às duas horas da tarde e verificado que elas ainda não tinham comido nada a esta hora do dia...
Projectos não faltam a Edgar Lange e ao programa Mang'oto - Ströbeck - incluem a criação de cabras, a produção de fruta, sumos e saladas, a plantação de árvores, a utilização da energia solar para a cozinha, já que o corte de árvores (ainda cozinham a carvão) favorece a erosão do solo, etc, etc.
Edgar e Antje não vão vacinar os filhos, Max e Eric, contra a malária. Confiam na experiência que já têm do continente africano e da doença, e vão prevenidos com remédios contra a malária. As vacinas, diz ele, também têm efeitos secundários. Por isso, preferem confiar nas defesas naturais dos filhos e usar redes mosquiteiras à noite.
O contacto com as populações é rápido e fácil. A cultura autóctone foi influenciada pela cultura cristã, através dos missionários alemães e ingleses que chegaram há mais de 100 anos à Tanzânia. Há muitos cristãos e muitas igrejas, e de certa maneira os valores são cristãos, sobretudo no que respeita aos mandamentos e à monogamia. Além disso, diz Edgar - e de novo vejo o belo sorriso aberto do início da nossa conversa - eles são africanos, o que significa: alegres, vivos, jovens (mesmo na percentagem etária), gostam de cantar e dançar, e trabalham muito no campo, especialmente as mulheres.
Edgar Lange já fez duas exposições de fotografia sobre as crianças do programa de ajuda directa Mang'oto - Ströbeck, e em breve vai apresentar nova exposição, desta vez sobre as mulheres - nós iremos visitar e fazer a reportagem para este blogue!
Entretanto, um abraço e boa sorte, toi toi toi... e
Pole pole, haina baraka!
Devagar se vai ao longe!
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