Friday, May 21, 2010




Chemnitz I, Monumento a Karl Marx




Chemnitz talvez não seja a escolha mais óbvia para quem queira visitar uma cidade na Saxónia dos nossos dias. Antiga Karl-Marx-Stadt na era da RDA (de 1953 a 1990), Chemnitz retomou o nome que tinha anteriormente, de origem eslava e relacionado com o rio que passa pela cidade, mas não abdicou do gigantesco Monumento a Karl Marx, o maior busto do mundo (a que chamam "Nischel", a palavra local para "cabeça"). Os habitantes sentem que Karl Marx lhes pertence, não tanto como uma das figuras que a RDA escolheu para emblema nacional, mas mais como alguém que está, tal como Chemnitz, indissoluvelmente ligado à industrialização e ao movimento operário, personalidade incontornável da história europeia e mundial. Se Dresden tem uma tradição aristocrática e artística e Leipzig uma aura cosmopolita por causa das feiras internacionais, Chemnitz é a sede do trabalho e esforço árduo, de produção a muito custo, esses são os valores que aqui imperam ainda hoje. Chemnitz cresceu com a industrialização e foi sede de grandes fortunas no séc. XIX e princípios do séc. XX. O centro da cidade foi quase totalmente destruído no rescaldo da Segunda Grande Guerra, restou uma praça, o Theaterplatz, que se organiza em redor da ópera, da igreja evangélica, St. Petrikirche, e do museu onde estão as colecções de arte de Chemnitz, o König-Albert-Museum.

Talvez não fosse Chemnitz a escolha mais óbvia para quem quisesse visitar uma cidade na Saxónia dos nossos dias. Mas eu tinha o melhor dos pretextos para visitar Chemnitz, o convite de uma pessoa amiga. E se antecipava momentos calorosos, estava muito longe de imaginar a surpresa que me esperava...

(a continuar)


Imagem: Monumento a Karl Marx em Chemnitz


Créditos da imagem: der-atlantikwall.de

Tuesday, May 11, 2010



Margem



Longo tempo

caminhei por uma

muito estreita

margem

como se fosse meu

todo o horizonte




Imagem e créditos: La Equilibrista, flickr.com ("una cierta mirada", Luis Mariano González)

Sunday, May 9, 2010




Convite à Viagem





"Il ne faut pas confondre les livres qu'on lit en voyage et ceux qui font voyager"

André Breton


Procuro

intensamente

livros que fazem viajar





Imagem: Isiah e Benjamin Lane, Ballooning over Paris, Viajando de balão sobre Paris (1890)




Créditos da imagem: artwork.barewalls.com

Saturday, May 8, 2010


Viagem


Uma grande onda

de solidão

trouxe-me

a esta praia



Chansonettes (2010)
Imagem: Robert Doisneau, 49. Quai du Vert Galant, Paris (1946)
Créditos da imagem: gilbertmusings.tumblr.com

Wednesday, May 5, 2010






Jorge Santayana, "Filosofia da Viagem"






Perguntar, como um escritor de língua alemã, onde se está em casa - no lugar onde se nasceu, ou naquele onde se deseja morrer, é formular a mesma coisa em dois momentos diferentes da vida humana, o nascimento e a morte. Entre esses dois momentos, a extensão de uma vida, um movimento em direcção a uma maior consciência. Por um lado, a necessidade humana da casa, do lar, da origem e da finalidade, do destino; por outro lado, a existência humana como viagem, como percurso entre dois portos.


No seu ensaio "Filosofia da Viagem", Jorge Santayana distingue os seres humanos das plantas justamente pela sua capacidade de locomoção. A essa capacidade estaria ligada a inteligência. Assim, mais do que às mãos, o ser humano deveria a sua inteligência aos pés. Aqueles que pensam sentados, para além disso, com olhos fixos no vazio, escreve o ensaísta, consomem-se no sonho, em imagens de coisas remotas e na neblina da memória; ao passo que pensar caminhando nos faz avisados, alerta, ponderando coisas reais na sua ordem real.


Depois de considerar os vários tipos de viajante, desde aquele que nasce - condição da condição humana - passando por aquele que emigra, pelo exilado, pelo explorador, colonizador, pelo mercador, e ainda pelo vagabundo, mas também pelo alpinista, pelo caçador, pelo desportista, até ao último e mais moderno tipo de viajante, o turista, seja ele excursionista ou peregrino, de todos estes dilectos de Hermes o ensaísta afirma: "é sábio deslocar-se o mais frequentemente possível do mais conhecido ao mais estrangeiro: conserva ágil a mente, destrói os preconceitos e fomenta a alegria."


No entanto - e salvaguardando também as viagens que é possível fazer sem nos deslocarmos no espaço, como será o caso da navegação neste blogue, conclui Santayana: "O coração humano é localmente finito e tem raízes: e se a inteligência irradia dele, segundo o seu vigor, para distâncias cada vez maiores, o aprendido, para ser conservado, há-de ir parar a esse centro."


Terá a casa um papel semelhante ao que Santayana atribui ao coração? Se assim é, que responsabilidade a dos senhores arquitectos! Eles, melhor do que ninguém, poderiam glosar o tema. Para nós a "casa" será este centro aqui criado, o blogue que hoje iniciamos, dentro do qual as minhas crónicas à volta do globo serão modestas propostas de conversa e construção. Não prometo uma volta ao mundo, muito menos em 80 dias, na verdade nem prometo nada, apenas partilhar convosco aquilo que me parecer digno de menção. Começo em breve, até já!


(2005)
Créditos da imagem: http://www.galeon.com/