Wednesday, January 26, 2011








Manuel Durão apresenta música portuguesa no Restaurante "Portugal" em Leipzig








Hoje, dia 25 de Janeiro, é dia de serão português no Restaurante "Portugal" em Leipzig. O compositor Manuel Durão, que estuda há já mais de um ano nesta cidade alemã, autor de uma peça estreada na Ópera de Leipzig em 2009 (Diário de um louco), vai convidar-nos para uma viagem pela música portuguesa que é, tal como ele logo começa por nos dizer, um mundo.
Na sala do restaurante há entre 35 e 40 pessoas que vão acompanhando com vinho petiscos portugueses preparados por Miguel Loureiro, dono do Restaurante "Portugal", ao mesmo tempo que seguem a apresentação de Manuel e ouvem com atenção os exemplos musicais que propõe. A viagem começa, como talvez não pudesse deixar de ser, pela música clássica, e é com ela que termina, com composições executadas ao vivo por duas também muito jovens colegas do Conservatório, Fiona Weissmann no violino e Jill Jeschek na flauta.
Eis o alinhamento da sessão musical:
  • Luís de Freitas Branco, 4ª Sinfonia (1952), 4º Andamento (Allegro)
  • Joly Braga Santos, 3ª Sinfonia (1949), 1º Andamento
  • Fernando Lopes Graça, Harmonização da canção alentejana "Olha a laranja"
  • Eurico Carrapatoso, "O que me diz o vento de Beja" (1996), de Dez vocalizos para Leonor e arcos
  • Amália Rodrigues (1920-1999), "Asas Fechadas" (1962), in Busto
  • José Afonso (1929-1987), "Canção de Embalar", editada em 1962 em Cantares do Andarilho
  • Jorge Palma, "Frágil", in Bairro do Amor (1989)
  • Maria João e Mário Lajinha, "Há gente aqui" (1998), de Cor
  • Rui Veloso com Tim, Jorge Palma, Vitorino, João Monge, "Rio Grande", in A Fisga (1996)
  • Tiago Derriça. "Dorme, dorme, que a vida é nada", poema de Fernando Pessoa, para cordas e coro (2009)
  • Gonçalo Gato, Derivação (Prémio de Composição da Póvoa do Varzim (2008)
  • Manuel Durão, Invenção para uma rua para violino, Fiona Weissmann no violino, peça executada ao vivo
  • Manuel Durão, Contracurva para flauta, Jill Jeschek na flauta, peça executada ao vivo.

Os participantes no serão musical não podiam estar mais atentos. As minhas vizinhas alemãs dizem-me ter gostado mais das peças clássicas que enquadraram a sessão, os números iniciais e finais, opinião que partilho com elas, também pela surpresa das peças contemporâneas tocadas ao vivo. Conversa-se muito sobre tudo e nada, a atmosfera é calorosa, a contrastar com o tempo lá fora - concentrados na música e troca de impressões, mal reparámos no que se passava na rua - caiu alguma neve - e, quando nos decidimos a ir para casa, está tudo branco e... bom, é preciso cuidado para não escorregar!

A sessão foi organizada por Stefan Poppitz, que dirige a secção de Leipzig da Deutsch-Portugiesische Gesellschaft, e por Patrícia Nunes Nogueira, estudante de Português e dinamizadora cultural do "Encontro Lusófono". Aqui fica, graças ao YouTube, um vídeo do evento, com uma panorâmica do público, artistas e organizadores:



Thomaskirche, this evening

Saturday, January 22, 2011













O café segundo J. S. Bach (II)

Mais uma vez percorro a cidade e me embrenho em vielas, passo por praças e grandes espaços certamente sob o signo de Kafka, reequacionando margens e centros, encontrando-os onde quiser, já que dependem afinal da perspectiva, "o horizonte move-se com o caminhante" ...

Acompanhando J. S. Bach, que partiu da inspiração do café para escrever uma Cantata, e que percorreu também ele tantas vezes estes mesmos sítios que agora revisito...

Seguindo passos que terão sido de tantos artistas, poderemos continuar com Robert Schumann, Franz Liszt ou Richard Wagner, se escolhermos a área musical; com Lessing, Goethe ou E. T. A. Hoffmann, se preferirmos um guião mais literário...

Uma coisa é certa nestes tempos incertos: há História a cada passo pisando estas pedras, e até em termos de espaço podemos viajar para longínquas paragens sem sair do centro desta cidade alemã. Por força do hábito de viver em cidades estrangeiras, habituei-me, nestes já 16 anos, a conviver não só com o imenso potencial de cultura que cada cidade onde vivi contém, mas mais ainda, pelo contacto vivo com culturas diferentes, a procurar em cada uma dessas cidades pontos singulares de ligação entre elas.


Hoje procuro aqui este ponto singular onde ocidente e oriente aparecerão ligados, o café mais antigo da Alemanha e, juntamente com o Café Procope de Paris, um dos mais antigos da Europa, o Coffe Baum de Leipzig, fundado em 1720 com o nome Zum Arabischen Coffe Baum. É esta ligação que aparece representada na escultura barroca que adorna a entrada do café, um oriental oferecendo uma taça de café a um menino.


Desde 1720 serve-se aqui café, chá, cacau e álcool, lúpulo e malte, pequenos snacks e, a partir de 1800, serviço à la carte. Hoje em dia o Coffe Baum oferece espaços de café árabe, francês e vienense, e o restaurante "Lehmann-Stube". Este edifício de vários andares convida ainda os visitantes a descobrir o museu do café em 15 salas, com mais de 500 objectos expostos, todos dedicados a esta bebida que dizem ser a preferida na Saxónia.


Deixo-vos com um tema musical dedicado ao café, nas versões de Marlene Dietrich (vd. post anterior) e mais recentemente, de Max Raabe, ambos ao vivo - "You're the Cream in my Coffee" -


Saturday, January 15, 2011







Da Alemanha para o mundo


Nem todos os filhos de Deus têm sapatos, Senhor...





O programa Mang'oto, no qual Edgar Lange e a família (Antje, a companheira, e os dois filhos do casal, Max e Eric), tão generosa e entusiasticamente participam, une esta aldeia, situada nas Montanhas Livingstone, no sudoeste da Tanzânia, com uma paróquia evangélica na Alemanha, em Ströbeck. O pastor desta comunidade está reformado, mas continua a ser o coração da organização, juntamente com a sua sucessora, que também já visitou a Tanzânia, e continua responsável pelo trabalho ecuménico.

Edgar Lange salienta a importância de um programa como este na Alemanha, justamente em zonas onde há um forte elemento neo-nazi. Os programas de ajuda directa ajudam a abrir os olhos dos cidadãos para a realidade num continente muito diferente, já que a maior parte da população alemã não faz a menor ideia da cultura e das condições de vida na Tanzânia ou mesmo na África em geral. Edgar é de opinião que todos devíamos viver no nosso planeta de forma justa e equilibrada, mas até hoje ainda não encontrámos uma maneira de o fazer, ou simplesmente ainda não fomos capazes de a pôr em prática.

Mas a maneira de viver africana, sublinha Edgar com entusiasmo, também tem as suas vantagens e nós, europeus, poderíamos aprender muito com eles. Os africanos vivem com as coisas que são realmente essenciais - nós vivemos rodeados de coisas inúteis. A nossa vida é marcada pelos mercados e pelo consumo, e todos os valores estão ligados à sociedade de consumo, "ter" em vez de "ser". Em África, até um simples copo de água potável, que erradamente nos habituámos a ter como uma coisa certa e óbvia, é algo de muito importante. Nós temos vindo a destruir a Terra, o nosso belo planeta azul. Eles vivem com a Terra e há tribos que veneram a Terra como se fosse uma divindade, porque ela também dá alimento. Tudo isto, no entanto, continua Edgar, é filosofia - a realidade é bem mais dura e difícil, os factos bem mais sérios. Eles sabem que não vivem muito tempo, e há muito que aprenderam a viver com a presença da morte como uma coisa natural, que faz parte do ciclo da Natureza. Assim, são jovens e alegres e vivem no presente, porque sabem que não têm vidas longas.

A prioridade desta parceria de ajuda directa - o que quer dizer que o dinheiro doado vai directamente para as populações, Edgar e a família, por exemplo, pagaram a viagem do próprio bolso - é ajudar as crianças órfãs da sida. São em Mang'oto cerca de 400 órfãos, muito pobres e muito inteligentes, salienta Edgar, pois inteligência e educação são coisas diferentes. Estas crianças estão subalimentadas e sozinhas, pois grande parte delas perdeu um ou os dois progenitores, pai e mãe. Vivem entregues a si próprias, sem ninguém que as ajude ou cuide delas, e em difícil situação psicológica. Assim, o programa Mang'oto - Ströbeck ajuda as crianças de várias maneiras: apoia os que nada têm com um programa de bolsas de estudo, compram cadernos, livros e sapatos para os órfãos - sim, ter sapatos é um luxo em Mang'oto... e por isso, quem os tem já é, só por isso, muito feliz! A parceria criou uma rede de padrinhos e madrinhas, pessoas ou empresas, que pagam 10 Euros por ano para apoiar um aluno que perdeu o pai ou a mãe, ou ambos. Com estes 10 Euros, os órfãos podem frequentar a Escola Primária e comprar roupa, livros, cadernos, sapatos. As roupas das crianças são confeccionadas por um grupo de mulheres, viúvas da sida, a quem o programa de ajuda directa comprou treze máquinas de costura e ofereceu um curso de corte.

O programa também luta directamente contra a sida, cuja percentagem é, nesta região, de 40%, por causa das tradições de poligamia e das migrações laborais, criando grupos de auto-ajuda e distribuindo preservativos pela população - Edgar já viajou várias vezes com a mochila cheia de preservativos para Mang'oto...

Outras prioridades são juntar dinheiro para comprar canos que vão trazer água da nascente da montanha até à aldeia. Agora, são ainda as crianças quem transporta a água à cabeça todas as manhãs. Edgar salienta, vivamente impressionado, ter muitas vezes entrevistado crianças às duas horas da tarde e verificado que elas ainda não tinham comido nada a esta hora do dia...

Projectos não faltam a Edgar Lange e ao programa Mang'oto - Ströbeck - incluem a criação de cabras, a produção de fruta, sumos e saladas, a plantação de árvores, a utilização da energia solar para a cozinha, já que o corte de árvores (ainda cozinham a carvão) favorece a erosão do solo, etc, etc.

Edgar e Antje não vão vacinar os filhos, Max e Eric, contra a malária. Confiam na experiência que já têm do continente africano e da doença, e vão prevenidos com remédios contra a malária. As vacinas, diz ele, também têm efeitos secundários. Por isso, preferem confiar nas defesas naturais dos filhos e usar redes mosquiteiras à noite.

O contacto com as populações é rápido e fácil. A cultura autóctone foi influenciada pela cultura cristã, através dos missionários alemães e ingleses que chegaram há mais de 100 anos à Tanzânia. Há muitos cristãos e muitas igrejas, e de certa maneira os valores são cristãos, sobretudo no que respeita aos mandamentos e à monogamia. Além disso, diz Edgar - e de novo vejo o belo sorriso aberto do início da nossa conversa - eles são africanos, o que significa: alegres, vivos, jovens (mesmo na percentagem etária), gostam de cantar e dançar, e trabalham muito no campo, especialmente as mulheres.

Edgar Lange já fez duas exposições de fotografia sobre as crianças do programa de ajuda directa Mang'oto - Ströbeck, e em breve vai apresentar nova exposição, desta vez sobre as mulheres - nós iremos visitar e fazer a reportagem para este blogue!
Entretanto, um abraço e boa sorte, toi toi toi... e
Pole pole, haina baraka!

Devagar se vai ao longe!

Quem quiser, de qualquer parte do mundo pode contribuir para a conta:


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