Saturday, May 28, 2011

Ana Nobre de Gusmão na Universidade de Leipzig





A escritora portuguesa Ana Nobre de Gusmão esteve na Alemanha e fez sessões de leitura nas universidades de Mainz / Germersheim, Leipzig e Hamburgo. Em Leipzig, a sessão de leitura teve lugar a 26 de Maio de 2011, sob a égide do Instituto de Romanística e do Instituto Camões. A autora leu passos dos seus romances Delito sem corpo (Prémio Máxima Revelação de 2006) e Aves do paraíso. Judith Bettermann e Philipp Czapik leram os mesmos passos dos romances na versão alemã (Spiegel der Angst e Die Seherin, ambos publicados no Weidle Verlag).

Agradecemos esta leitura a Ana Nobre de Gusmão, bem como a interessante troca de impressões com os estudantes e professores presentes no público. De destacar a presença dos professores do Instituto de Romanística Doutora Christine Hundt, Doutora Cornelia Doell, Doutora Claudia Gatzemeier e Doutor René Ceballos.

No início da sessão, o grupo musical de estudantes de Português do Instituto de Romanística da Universidade de Leipzig, LusoNautas, deu as boas-vindas à escritora, interpretando "Milho verde" (canção popular portuguesa no arranjo de José Mário Branco).






Os LusoNautas foram: Ana Maria Delgado, Anne John, Hannah Rothmaier, Judith Bettermann (voz e guitarra), Margaretha Wolff, Philipp Czapik (voz e percussão), Sara Mendéz, Sara Rudolph e Tatjana Zyrko, representando os seguintes países: Alemanha, Bielorússia, Espanha, e Portugal.

Sunday, May 8, 2011



No coração de Sophia


O post anterior, sobre o 25 de Abril, e aquilo que concluí em breve texto sobre a necessidade de constantemente fazermos a sua actualização nas nossas vidas, recordou-me este passo que nos leva directamente ao que considero o "coração da obra" de Sophia de Mello Breyner Andresen:


"A poesia é oferecida a cada pessoa uma só vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias."

O passo insere-se num dos seus Contos Exemplares, escritos em 1962 tomando como exemplo Cervantes, o conto "Mónica". Caracterizando e caricaturando Mónica, personagem-tipo da época que se vivia então em Portugal, é este o contexto do passo acima citado, falando a narradora do sucesso social de Mónica:

"Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.


De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.

A poesia é oferecida a cada pessoa uma só vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.


Isto obriga Mónica a uma disciplina severa. Como se diz no circo, 'qualquer distracção pode causar a morte do artista'. (...) Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos."

O passo oferece a chave para a compreensão do curto conto "Mónica", funcionando assim como mise-en-abîme do texto, conduzindo-nos simultaneamente ao essencial da obra da escritora e poeta, ao coração de Sophia...



Fotografia de Eduardo Gageiro