Wednesday, July 14, 2010














Chemnitz II -
Seguindo a rota de Henry van de Velde


Chegados a Chemnitz, um breve passeio pela cidade, e logo o nosso itinerário se desvia um pouco do centro para mostrar uma jóia do "Jugenstil", seguindo a rota europeia de Henry van de Velde: a Villa Esche. É com enorme surpresa (não me tinha informado muito sobre a cidade e a sua história, pois sabia ter um excelente guia) que descubro, no meio de um bem cuidado parque e jardim, uma vivenda Arte Nova de linhas muito depuradas. Parecia acabada de construir, novinha em folha, mas devia ter uns cem anos... já vou contar a história, tal como a ouvi na visita guiada e pude voltar a recapitular num DVD que encontrei na loja da Villa Esche.

A história da Villa Esche começa em 1898, quando Johanna Esche lê um número da revista de Munique, Artes Decorativas, dedicado ao arquitecto belga Henry Clément van de Velde, e decide com o marido, o empresário industrial Herbert Eugen Esche, director da fábrica de meias "Moritz Sml. Esche", encomendar o mobiliário para a residência da família no bairro de Kaßberg em Chemnitz. Este bairro é hoje em dia considerado um dos conjuntos arquitectónicos mais bem conservados da Arte Nova europeia. Muito em breve decidem que gostariam de viver num ambiente mais harmonioso, no qual a mobília estivesse integrada na arquitectura interior e exterior, e em 1902 pedem a Henry van de Velde que projecte não só uma casa, mas um espaço de vida como obra de arte total.

Foi o primeiro projecto de van de Velde na Alemanha, e documenta a sua interpretação racional do "Jugendstil" (Arte Nova). Van de Velde renuncia à ornamentação floral exuberante do anterior "Jugendstil" e opta por linhas direitas e funcionais. É um dos seus primeiros "esboços para a vida", ligando a funcionalidade com uma grande exigência artística, e criando um novo estilo que se quer simultaneamente um estilo de arte e de vida. Note-se que a rota de van de Velde o conduzira da França, passando pela Bélgica e Holanda, até à Alemanha e Polónia, sendo Weimar, na Turíngia, e Chemnitz, na Saxónia, pontos importantes deste itinerário. Van de Velde deixará a sua inscrição em Chemnitz em mais três projectos: uma outra vivenda para o irmão de Anni Esche, o Dr. Theodor Körner, a remodelação da vivenda dos pais de Anni, e uma encomenda do irmão de Herbert Esche para um clube de ténis (que infelizmente já não existe).

Henry van de Velde projecta, como artista multifacetado que era, não só a arquitectura exterior e interior da residência e os jardins, mas todos os pormenores da casa, desde portas, janelas, batentes, sanefas, papel de parede, tapetes, clarabóia, móveis-cobertura para radiadores, mobília, porcelana, pratas, talheres, vestuário para a Senhora Escher, e utensílios vários.

Em 1904, a família muda-se para a Villa e, no ano seguinte, Edvard Munch é convidado do casal e pinta, durante essa estadia, os retratos dos dois filhos de Anni e Herbert Esche. Em 1911 fazem-se obras na residência com orientação de van de Velde. Neste mesmo ano Anni morre e Herbert Esche fica na Villa até finais da 2ª Grande Guerra e deixa Chemnitz no Outono de 1945. A Villa Esche é utilizada para vários fins e sofre modificações até ficar vazia em 1990 e em estado de degradação avançada. É então adquirida por uma sociedade de administração imobiliária, que empreende a sua total recuperação como monumento arquitectónico de grande qualidade à escala europeia. Com base no que restava da residência e em fotos, modelos e esboços de vários arquivos europeus, pensou-se não só na recuperação deste monumento em adiantada fase de degradação, mas também na climatização, saídas de emergência, nas directrizes de raiz para espaços culturais, e em pormenores importantes como a reconstrução da clarabóia e do soalho e a pintura das paredes exteriores segundo um método especial que produz um efeito de "arranhão".

A Villa Esche é solenemente inaugurada em 2001, com um concerto de Ano Novo, e passa a funcionar como plataforma cultural e ponto de encontro privilegiado da economia, ciência, cultura e arte na região da Saxónia. É um espaço elegante e calmo, onde se sente ainda a presença inspiradora do espírito do seu arquitecto, o belga Henry van de Velde. Alberga e é palco de conferências, workshops, seminários, residência de artistas, eventos culturais, concertos, exposições, possuindo ainda um restaurante e serviço de casamentos e eventos especiais. Em 2003 festejou-se o centenário da Villa Esche, que permanecerá como testemunho vivo da amizade entre o empresário saxónio Herbert Esche e o arquitecto belga Henry van de Velde, um dos protagonistas da história da arte europeia na viragem do séc. XIX para o séc. XX.

Vamos ainda ver o impressionante conjunto arquitectónico que é o bairro de Kaßberg, em "Jugendstil", e regresso a casa depois deste inesperado encontro com Henry van de Velde na cidade saxónia de Chemnitz, sentindo que a página da memória está, no que toca ao dia de hoje, completamente preenchida.
Henry van de Veldes Villa Esche in Chemnitz, Video DVD 34m, VideoVision 2007

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